O Memórias do Reinado de Momo tem como objetivo central o fortalecimento da memória do Carnaval de Salvador, festa que traduz tão intensamente a cidade, sua história e seu povo. Conhecido mundialmente pela beleza dos seus blocos afro e pela potência do seu trio elétrico, o carnaval soteropolitano foi palco de uma diversidade de outras experiências festivas que contribuíram para que ele se transformasse em uma das maiores e mais emblemáticas festas de rua do mundo.

Assim como é um espaço propício e potente para a construção de identidades, o Carnaval de Salvador é campo tenso de disputas. Isso se explica porque, sabemos, toda e qualquer festa que faça balançar o chão das nossas praças vem acompanhada de um conjunto de conflitos das mais diversas ordens – social, cultural, étnico, territorial, econômico etc. É por isso que as festas populares de Salvador se configuram como ocasiões onde é possível visualizar o mais vistoso e o mais pulsante da sua cultura, ao mesmo tempo em que estão presentes ali a desigualdade social e a tensão étnico-simbólica que caracterizam profundamente a história e o cotidiano soteropolitanos.

E é justamente por ser um território fortemente marcado por estes conflitos que salvaguardar a memória do Carnaval de Salvador aparece como uma medida fundamental para devolver dignidade aos atores e grupos culturais que foram invisibilizados no decorrer desse longo reinado de Momo.

Através de um mergulho em profundidade em mais de um século de história carnavalesca, este projeto coloca luz, sobretudo, sobre aquelas manifestações culturais que tiveram sua existência e importância silenciadas no processo de modernização da festa.

Assim, concordando que o direito à memória é um aspecto fundamental para o pleno exercício da cidadania, o projeto Memórias do Reinado de Momo reabilita memórias para que as mesmas sejam reivindicadas por quem lhes é de direito, os seus herdeiros festivos.

A PESQUISA

O projeto é coordenado pela pesquisadora e doutora em Cultura e Sociedade, Caroline Fantinel. A concepção é do professor Paulo Miguez. Nas duas edições o projeto contou com a experiência de pesquisadores afinados com a temática em questão. Clique aqui e conheça a equipe.

Os principais recursos utilizados foram a pesquisa documental (fotos e registros da imprensa), a pesquisa bibliográfica e entrevistas com pesquisadores e participantes ativos das manifestações estudadas.

PRIMEIRA EDIÇÃO

O projeto estreou em 2015 com uma pesquisa sobre os cordões, batucadas e escolas de samba, categorias festivas que, de meados da década de 1930 até o final dos anos 70, marcaram e modificaram profundamente o cenário do Carnaval de Salvador. Apesar do protagonismo que tinham nas ruas, suas memórias se perderam com o processo de modernização da festa. Motivado por este contexto, o projeto remontou a história dessas agremiações – organizações típicas da participação dos setores populares nos festejos e que praticamente desapareceram do cenário carnavalesco contemporâneo.

O resultado da primeira edição foi um panorama histórico muito interessante desse momento carnavalesco – acompanhando o texto da pesquisa, uma galeria com mais de 50 fotografias raras; uma seleção com, aproximadamente, 150 matérias jornalísticas divulgadas à época; uma série com oito entrevistas esclarecedoras com participantes e pesquisadores dessa configuração festiva; um mapeamento que reúne informações de mais de 160 entidades, entre cordões, batucadas e escolas de samba; e, ainda, o levantamento dos resultados dos concursos oficiais da Prefeitura no período de 1955 a 1975.

Assista no vídeo a seguir uma apresentação desta primeira edição:


SEGUNDA EDIÇÃO

Em 2020 foi lançada a segunda edição do projeto, com uma nova pesquisa que apresentou aspectos importantes dos primeiros carnavais da cidade. Voltando no tempo, a história das sociedades carnavalescas da elite e a presença negra nas ruas no período entre 1884 e 1930 foi revelada, especialmente, a partir dos registros de imprensa da época. Através das histórias de clubes como o Cruz Vermelha, Fantoches da Euterpe, Innocentes em Progresso, Embaixada Africana e Pândegos da África foi possível conhecer e compreender os seus aspectos festivos e, sobretudo, as tensões e as disputas que estiveram em jogo na consolidação de um projeto de cidadania no princípio do período republicano na Bahia.

Nesta edição, acompanhando o texto da pesquisa, o projeto apresentou como resultado: uma galeria com mais de 30 fotografias raras; uma seleção com, aproximadamente, 200 matérias jornalísticas divulgadas à época; um documentário sobre o contexto festivo dos primeiros carnavais de Salvador; um documentário sobre o Clube Carnavalesco Embaixada Africana; uma obra visual que remontou o desfile mais emblemático do Clube Carnavalesco Embaixada Africana (autoria de Anderson AC); e, ainda, o levantamento das entidades carnavalescas que se apresentaram no período pesquisado.

Assista abaixo o documentário “Os primeiros Carnavais de Salvador”, um dos resultados desta segunda edição:

O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.