A desestabilização das escolas de samba começa logo nos primeiros anos da década de 1970. Vários fatores são apontados como influenciadores deste declínio, entretanto, há um motivo que é transversal a todos os demais – a consolidação de um modelo de carnaval exclusivamente participativo.
O trio elétrico, mais potente do que nunca, e os blocos, cada vez maiores, passam a caracterizar essencialmente o carnaval soteropolitano. O espaço da contemplação, típico para quem assistia aos desfiles das escolas de samba, vai ficando cada vez mais deslocado neste cenário.
Acompanhando este movimento, os próprios participantes das escolas de samba começam a se queixar sobre o grande trabalho que era colocar sua entidade carnavalesca na rua. Dada a sua estrutura complexa e grandiosa, o tempo para brincar ficava bastante restrito. Foi comum ao longo das entrevistas feitas para este projeto a fala de que “era muito trabalho e pouca farra”. Este é, certamente, um fator de desmotivação a ser considerado. Isso, inclusive, faz com que algumas escolas deem origem aos “blocos de índio”, de estrutura muito mais simples, para sair na segunda-feira – dia que as escolas não desfilavam. Os dois exemplos mais emblemáticos, aqui, são o Caciques do Garcia (criado a partir da E.S. Juventude do Garcia, em 1966) e o Apaches do Tororó (criado a partir da E.S. Filhos do Tororó, em 1968).
Obviamente que um dos principais motivos para o trabalho ser tão árduo era a falta de dinheiro. E à medida que outros atores começam a se fortalecer acentuadamente na festa, a SUTURSA desvia o foco de sua atenção para estes, especialmente para o trio elétrico e os blocos carnavalescos. Isso é sentido pelas escolas tanto no que diz respeito ao recurso financeiro que era repassado pelo órgão, que passa a ser cada vez menor e mais difícil de se conseguir, bem como pela completa desatenção com os seus desfiles.
As escolas passam a coexistir com uma diversidade de outras entidades, bem como com um número muito grande de foliões nas ruas. Assim, a festa ganha proporções muito maiores que a década anterior, e isso torna ainda mais desafiador empreender um desfile com inúmeras alas, centenas de foliões e uma bateria pesada no chão. Acompanhando essa dificuldade de perto, a SUTURSA – órgão responsável pela festa, não pareceu preocupada a ponto de propor soluções para preservar as escolas de samba, fosse um novo circuito ou uma faixa de horário exclusivo para os desfiles, por exemplo. De certa forma, isso reflete o modelo de carnaval eleito pelos poderes públicos para ser fortalecido na capital baiana.
A imprensa, que passou mais de uma década exaltando as escolas de samba, garantindo-lhes as maiores manchetes, a partir de 1973 muda o tom. Os jornalistas passam a criticar duramente essas entidades, fazendo um comparativo depreciativo com relação as suas co-irmãs cariocas e atestando que não apresentavam mais o mesmo brilho de outrora.
Outro ponto, um tanto curioso, que apareceu nas entrevistas feitas com os dirigentes e outros participantes diretos das escolas de samba foi o fato de que, a partir de 1968, a diretoria da Diplomatas de Amaralina passa a oferecer cachês para músicos, passistas e destaques. Segundo os entrevistados, isso desmobiliza o processo comunitário no qual estava pautado todo o trabalho das escolas, enfraquecendo-as.
Por esse conjunto de fatores, a década de 1970 assiste ao desaparecimento gradativo das escolas de samba. Mesmo neste contexto, é possível ter registros dos seus desfiles até o ano de 78.