Declínio

A desestabilização das escolas de samba começa logo nos primeiros anos da década de 1970. Vários fatores são apontados como influenciadores deste declínio, entretanto, há um motivo que é transversal a todos os demais – a consolidação de um modelo de carnaval exclusivamente participativo.

O trio elétrico, mais potente do que nunca, e os blocos, cada vez maiores, passam a caracterizar essencialmente o carnaval soteropolitano. O espaço da contemplação, típico para quem assistia aos desfiles das escolas de samba, vai ficando cada vez mais deslocado neste cenário.

A imprensa passou a apoiar a extinção das escolas de samba do carnaval soteropolitano. [Diário de Notícias, 09 a 12/02/1975]

A imprensa passou a apoiar a extinção das escolas de samba do carnaval soteropolitano. [Diário de Notícias, 09 a 12/02/1975]

Acompanhando este movimento, os próprios participantes das escolas de samba começam a se queixar sobre o grande trabalho que era colocar sua entidade carnavalesca na rua. Dada a sua estrutura complexa e grandiosa, o tempo para brincar ficava bastante restrito. Foi comum ao longo das entrevistas feitas para este projeto a fala de que “era muito trabalho e pouca farra”. Este é, certamente, um fator de desmotivação a ser considerado. Isso, inclusive, faz com que algumas escolas deem origem aos “blocos de índio”, de estrutura muito mais simples, para sair na segunda-feira – dia que as escolas não desfilavam. Os dois exemplos mais emblemáticos, aqui, são o Caciques do Garcia (criado a partir da E.S. Juventude do Garcia, em 1966) e o Apaches do Tororó (criado a partir da E.S. Filhos do Tororó, em 1968).

Obviamente que um dos principais motivos para o trabalho ser tão árduo era a falta de dinheiro. E à medida que outros atores começam a se fortalecer acentuadamente na festa, a SUTURSA desvia o foco de sua atenção para estes, especialmente para o trio elétrico e os blocos carnavalescos. Isso é sentido pelas escolas tanto no que diz respeito ao recurso financeiro que era repassado pelo órgão, que passa a ser cada vez menor e mais difícil de se conseguir, bem como pela completa desatenção com os seus desfiles.

As escolas passam a coexistir com uma diversidade de outras entidades, bem como com um número muito grande de foliões nas ruas. Assim, a festa ganha proporções muito maiores que a década anterior, e isso torna ainda mais desafiador empreender um desfile com inúmeras alas, centenas de foliões e uma bateria pesada no chão. Acompanhando essa dificuldade de perto, a SUTURSA – órgão responsável pela festa, não pareceu preocupada a ponto de propor soluções para preservar as escolas de samba, fosse um novo circuito ou uma faixa de horário exclusivo para os desfiles, por exemplo. De certa forma, isso reflete o modelo de carnaval eleito pelos poderes públicos para ser fortalecido na capital baiana.

Diário de Notícias, 28/02/1974.

A imprensa, que passou mais de uma década exaltando as escolas de samba, garantindo-lhes as maiores manchetes, a partir de 1973 muda o tom. Os jornalistas passam a criticar duramente essas entidades, fazendo um comparativo depreciativo com relação as suas co-irmãs cariocas e atestando que não apresentavam mais o mesmo brilho de outrora.

Outro ponto, um tanto curioso, que apareceu nas entrevistas feitas com os dirigentes e outros participantes diretos das escolas de samba foi o fato de que, a partir de 1968, a diretoria da Diplomatas de Amaralina passa a oferecer cachês para músicos, passistas e destaques. Segundo os entrevistados, isso desmobiliza o processo comunitário no qual estava pautado todo o trabalho das escolas, enfraquecendo-as.

Por esse conjunto de fatores, a década de 1970 assiste ao desaparecimento gradativo das escolas de samba. Mesmo neste contexto, é possível ter registros dos seus desfiles até o ano de 78.

 

A década de 1970 assiste a um aumento relevante no número de foliões, bem como da própria configuração da festa – especialmente pela efervescência dos trios elétricos. Esse sintoma veio a ser um dos fatores que impulsionou o desaparecimento das escolas de samba do carnaval de Salvador.
[Diário de Notícias, 28 fev. 1974]