Consolidação

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Do início da década de 1960 à primeira metade dos anos 70 as escolas de samba reinam absolutas no carnaval de Salvador. Em pouquíssimo tempo elas se credenciam como personagens potentes da festa soteropolitana. O sucesso das pioneiras Ritmistas do Samba (1957), E.S. do Politeama (1961) Juventude do Garcia (1959) e Filhos do Tororó (1963) estimula o surgimento de dezenas de outras Escolas de Samba em diferentes pontos da cidade, como a E.S. Vale do Canela, Filhos da Liberdade, Bafo da Onça, Diplomatas de Amaralina etc.

SUCESSO NA IMPRENSA

O êxito conquistado faz com que as escolas sejam o grande destaque das manchetes carnavalescas da imprensa soteropolitana. O curioso é que isso acontece em meio a um cenário festivo extremamente plural.

Os blocos, cordões e afoxés permanecem fazendo parte da festa, como o gigante cordão Vai Levando, o tradicional Filhos de Gandhy e o irreverente novo bloco das Muquiranas. Ainda, o trio elétrico vai se afirmando cada vez mais como personagem central da folia. Mesmo com toda essa diversidade coexistindo, a imprensa baiana, durante o período célebre das escolas de samba, seguiu dando grande destaque a essas entidades.

Além de ampla repercussão dos seus ensaios e desfiles, os jornais traziam entrevistas com os presidentes das escolas, onde estes falavam sobre a preparação da agremiação para a folia, sobre o processo de escolha dos sambas-enredo e os seus respectivos compositores. Na imagem abaixo é possível ver um exemplo disso, com o fundador da E.S. Filhos do Tororó, Arnaldo Silva, sendo entrevistado pelo jornal Diário de Notícias.

ESTRUTURA

Essa trajetória exitosa tem relação direta com os grandes esforços que eram empreendidos pelos participantes das escolas em prol do seu sucesso. Os desfiles, ao longo da década de 1960, são cada vez mais bonitos, contemplando uma estrutura cada vez mais organizada.

Sendo, desde o início, muito influenciadas pelas escolas de samba do Rio de Janeiro, as entidades soteropolitanas se espelhavam rigidamente na sua estrutura, buscando chegar o mais próximo possível de tudo que era feito por elas – o “padrão carioca de desfile” era extremamente almejado e perseguido pelas bandas de cá.

Os itens básicos e logo alcançados pelas escolas de Salvador dizem respeito ao samba-enredo que deveria ser eleito a cada ano, a divisão do desfile por alas temáticas e uma bateria mais pesada. A partir disso, as pioneiras entidades soteropolitanas foram se desenvolvendo e aperfeiçoando suas apresentações durante a folia momesca.

Segundo informações coletadas em entrevista com João Barroso, um dos fundadores da E.S. Juventude do Garcia, a estrutura de uma escola para o desfile era complexa. Tudo iniciava com o mestre sala e a porta bandeira, figuras de destaque e sempre escolhidas a dedo para garantir o brilho do desfile desde a sua primeira aparição no circuito. A partir desse “abre-alas”, surgiam as alas temáticas, representando o samba-enredo daquele ano. Aqui, faziam-se presentes inúmeros passistas, dançarinas, pessoas fantasiadas – cada qual com sua função e responsabilidade, com danças coreografadas, atuações teatrais e o samba na ponta da língua, claro. Acompanhando tudo isso, o encerramento ficava por conta do “coração” da agremiação, a sua bateria – uma verdadeira orquestra percussiva, composta primeiramente dos instrumentos mais pesados (típicos de uma escola de samba) e, em seguida, de instrumentos menores, como cuícas e agogôs.

“Era um verdadeiro teatro no asfalto”
[João Barroso]

Essa estrutura grandiosa exigia, obviamente, um investimento financeiro relevante. E este aparece como o ponto de maior fragilidade dessas entidades. Oriundas de bairros populares e compostas majoritariamente por pessoas de baixa renda, a saída das escolas de samba dependia do quanto a agremiação conseguia arrecadar junto ao poder público, políticos, comerciantes e comunidade. Era preciso um grande esforço colaborativo a fim de que se conseguisse a verba suficiente para o desfile anual.

O órgão de turismo da Prefeitura, a SUTURSA, era responsável pela gestão do carnaval e isso incluía o apoio financeiro para as apresentações de cordões, afoxés, trios elétricos e, também, das escolas de samba. Sempre envolto em um contexto polêmico, segundo os dirigentes das escolas, o auxílio dado pelo órgão nunca era suficiente para o que a categoria precisava. Além disso, através de pesquisa junto aos jornais da época, foi possível perceber que, em boa parte dos anos, o recurso saía às vésperas do carnaval – inviabilizando boa parte da produção prevista pelas entidades.

Para suprir essas dificuldades, os dirigentes das escolas de samba precisavam buscar outras formas para alcançar o montante necessário a cada ano, como a promoção de ensaios em suas quadras ou em outros espaços do bairro com cobrança de ingresso e venda de bebidas; a circulação do seu “Livro de Ouro” entre a comunidade e simpatizantes da entidade; rifas, entre outros. Ainda, cada ala tinha o seu próprio diretor e este era responsável direto pela organização e desfile deste grupo de pessoas, inclusive pela busca de recursos necessários para a sua apresentação conforme enredo e planejamento da escola.

Apesar dessas adversidades, o carnaval de Salvador foi palco de grandes e exuberantes desfiles ao longo dos anos que as escolas de samba estiveram vivas na festa – o que demonstra não só a aptidão política e gerencial dos seus dirigentes, mas, também, a força e a vontade coletiva dessas pessoas para fazerem desfilar seu samba na avenida.