Concursos

Para ter acesso ao mapeamento dos concursos oficiais do período de 1955 a 1975,
clique AQUI.

Estimulado pela efervescência dos cordões e batucadas, ainda em 1938 o jornal Diário de Notícias inicia as competições voltadas para estas entidades de cunho mais popular, que já ocupavam o primeiro plano nas festividades momescas de rua da cidade. Esse fato demonstra como a imprensa, que até pouco tempo atrás endossava o movimento de combate aos grupos afro-baianos, assume outra posição e passa a atuar em prol de sua visibilidade e promoção. A popularização do samba no Brasil, seguramente, foi um dos motivos que fez com que a imprensa prestasse atenção e se aproximasse dessas entidades.

A partir da década de 1950, a Prefeitura de Salvador passa a premiar as entidades carnavalescas que melhor se apresentassem na folia através de um concurso oficial, sempre organizado pelo departamento de turismo municipal. A iniciativa, ao mesmo tempo que impulsionou um carnaval mais bonito a cada ano, favoreceu ainda mais a rivalidade entre as agremiações.

Troféus para o carnaval de 1952. Acervo Gregório de Matos.

Havia categorias para que todos participassem – mascarados de rua, cordões, batucadas, afoxés, pequenos e grandes clubes, sedes dos clubes sociais (e, posteriormente, escolas de samba, caminhões e trios elétricos). Para participar do concurso era preciso fazer uma inscrição junto ao órgão municipal responsável, contudo não era proibido o desfile àquelas entidades que, por alguma razão, não viessem a se inscrever. Estas apenas não seriam julgadas, tampouco concorreriam aos prêmios.

É possível perceber, em mapeamento feito por esta pesquisa, o quanto muitas das agremiações eram inconstantes no que diz respeito a sua própria categoria. Isso se deve às suas próprias transformações enquanto entidade ao longo do tempo, mas também à criação de novas categorias por parte da comissão organizadora do concurso. Por exemplo, em 1961, os Cavalheiros de Bagdad, Mercadores de Bagdad e Filhos de Gandhy aparecem como “pequenos clubes”. Este último mesmo experimentou diversas nomenclaturas ao longo das suas participações nos concursos – foi considerado cordão afro-brasileiro, afoxé e pequeno clube.

Diário de Notícias, 12/02/1959.

Para ter acesso ao mapeamento dos concursos oficiais do período de 1955 a 1975, clique AQUI. Este documento aparece como ferramenta interessante e valiosa para o entendimento da transformação do carnaval soteropolitano, bem como das entidades que passaram por ele ao longo desses anos.

Para a avaliação da comissão julgadora uma estrutura era montada no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Posteriormente, essa estrutura seria montada na Praça da Sé, juntamente com um palco onde as agremiações teriam obrigatoriamente que se apresentar para os jurados em um dia específico do carnaval. Nomes como o da folclorista Hildegardes Viana, do antropólogo Vivaldo da Costa Lima, do pintor Carybé e do escritor Jorge Amado são citados na imprensa como jurados de alguns dos desfiles de carnaval de Salvador.

Aos três primeiros colocados eram ofertados troféus e somas em dinheiro. Mas, para além da premiação, a vitória era mais saborosa no que diz respeito a superar os participantes rivais. As apresentações, bem como os resultados, eram divulgadas amplamente pela imprensa local.

Além do concurso que avaliava as entidades carnavalescas, desde a década de 1930 ocorria o concurso oficial para eleger a Rainha do Carnaval. Cada entidade escolhia a sua Rainha e esta concorria no concurso oficial. Até a década de 1960 os registros mostram que as vencedoras eram exclusivamente mulheres brancas da elite soteropolitana. Só a partir da década de 1970 negras e mestiças passam a eleger-se como rainhas da folia momesca.

Estado da Bahia, 05/02/1953.