Blocos e Cordões

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Os blocos e cordões, grupos criados pela população para brincar o carnaval, desfilavam de forma livre, improvisando músicas e coreografias. Sempre trajados em fantasias coloridas e calcados na percussão, organizavam-se, em geral, territorialmente, sendo formados por moradores de um mesmo bairro, como era o caso do Filhos do Tororó, Amigos do Politeama e Barroquinha Zero Hora. Ainda, havia aqueles que se organizavam de acordo com suas profissões, como o Filhos do Fogo – formado por bombeiros, e o Filhos do Mar, composto por integrantes da Marinha.

Cordão Carnavalesco Filhos do Mar (1942-1975). Acervo Gregório de Matos.

A caracterização que aparece registrada nos jornais da época esclarece que os blocos eram formados por grupos menores de pessoas e que não precisavam ter um toque e uma coreografia básica. Podiam trazer estandarte ou não, bem como podiam apresentar instrumento de sopro ou não. Já os cordões eram grupos maiores e para eles era obrigatório os instrumentos de sopro e o estandarte.

Essas agremiações têm sua fase emergente fixada na década de 1920. Nesse momento são formados pela população negra e mestiça da capital, superando definitivamente a proibição imposta a eles de participarem da festa. Assim, são esses blocos e cordões que posicionam, paulatinamente, o carnaval soteropolitano em uma via cada vez mais popular.

Seguindo, são incontáveis os cordões que se formaram, especialmente, a partir da década de 1930. A cada ano a imprensa apresentava muitos novos nomes. Também era comum certa confusão quanto à categorização dessas entidades, tendo em vista que muitos que em um ano apareciam como cordão, no ano seguinte já eram divulgados como blocos. Provavelmente isso acontecia por serem formas muito próximas de organização. Além disso, como eram grupos recém-formados, a sua configuração ia sendo atualizada ano a ano pelos seus próprios integrantes. O Filhos de Gandhy, por exemplo, iniciou sua história como um dos mais importantes cordões do carnaval de Salvador (1949), sendo classificado como “gênero de batuque misto” e “cordão afro-brasileiro”. Em meados da década de 1950 começa a ser apresentado pela imprensa como afoxé.

Filhos do Tororó, Mercadores de Bagdad, Cavaleiros de Bagdá, Amigos do Politeama, Filhos do Garcia, Come Lixo, Deixa a vida de Quelé, Vai Levando… Muitos foram os cordões que fizeram história no carnaval de Salvador. A maioria começava de forma despretensiosa e, em pouco tempo já estava desfilando com centenas de foliões pelas ruas do centro da cidade, abrilhantando a vida carnavalesca soteropolitana.

Estado da Bahia, 02/03/1960.

Estado da Bahia, 02/03/1960

Até meados da década de 1950, quase que na sua totalidade, os cordões eram formados por pessoas da classe trabalhadora, geralmente negros e mestiços. O objetivo, aqui, era tomar as ruas e brincar o carnaval aproveitando da diversidade que a folia já apresentava. Vale ressaltar que nesse contexto festivo, havia aqueles que desfilavam com o objetivo do embate social, como é o caso do emblemático Cordão Carnavalesco Come Lixo e suas duras críticas à má gestão pública e a desigualdade social – em 1963, o tema do cordão foi “Rico come carne, pobre come lixo”. Na década de 1960 já é possível ver grupos de jovens mais abastados da sociedade baiana criando seus próprios blocos e cordões e levando-os às ruas nos dias de folia. Este foi o caso do Internacionais (1963) e do Corujas (1964), que foram se transformando em grandes entidades carnavalescas, marcando presença de forma contundente no carnaval de Salvador até os dias de hoje.

Extremamente criativos, os cordões foram personagens ilustres no carnaval da cidade por um longo período, modificando completamente a sua forma, as suas cores e os seus atores.

Bloco Carnavalesco Embaixadores da Índia (1952). Acervo Gregório de Matos.